Eu tinha, vc veja bem, desistido de escrever, por esses dias. Desistido mesmo e para sempre. Havia tido já a grande idéia, a idéia do romance da minha vida, aquela que nós, pretensos, passamos a vida inteira buscando. Tinha feito o corpo dele, resolvido como seria, dividido capítulos, escolhido personagem. As palavras, entretanto, seguiam escassas e não saiam de mim nem a pau, nem a ferro, nem por força divina. Não tinha poesia que desse jeito. Desisti e foi assim até que uma noite não consegui dormir pela palavra que martelava sem me dar o sossego. Queria tirá-la de mim, precisava torná-la viva. Primeira palavra, primeira página.Não sei se prossigo. Irei assim, homeopaticamente através de palavras?
Eu queria é me despir toda.
Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.