terça-feira, fevereiro 12, 2008

Prova

Em casa, o calor era constante e insuportável. Num momento indeciso entre o pôr daquele sol incômodo e a noite, estava sentada em sua cama preparando mais uma das cartas à Londrina. Sentada com quase nada mais do que uma camiseta e a calcinha e, ainda assim, podia sentir uma gota de suor descer pelo canto da testa e outra pelas costas.
Não havia nem meia hora que saíra do banho.
Como explicar este estado de sofrimento por erupção cutânea e hiperaquecimento da pele? Como pôr em palavras que se estava num estado de flutuação, como se não fizesse parte na verdade de nada ali naquele apartamento, no fim do verão por causa de diferenças irreconcíliaveis com sua mãe? Uma mãe que ele tanto venerava, como se fora a pessoa mais bondosa do mundo.
É isto que faz a falta de convívio. Pode ser que, quando ele chegue, enfim, tudo seja diferente. E inclusive a amizade se dissipe um pouco por outras tantas diferenças irreconciliáveis. Ela as tinha com o mundo.
"Quer saber? Colocarei" E na folha de fichário cor de rosa, começou a rabiscar forte palavras como irresponsabilidade, irritar, dar-se ao respeito.
Umas três ou quatro linhas depois e estava concluída.
Era a prova. A amizade iria vingar se sobrevivesse aos insultos e a um ponto de vista totalmente oposto do dele, que só continha três semanas de convívio contra os mais de vinte dela.

Um comentário:

Bruna Maria disse...

É preciso certa dose de coragem para manifestar algumas idéias que temos, mesmo com amigos que, teoricamente, não queremos arranjar climas, mal-estar. Mas acho que amizade, amizade mesmo, pressupõe isso também: saber dizer o que vai na nossa cabeça, é ser sincero com a outra pessoa. Enfim, não sei se é esse o ponto, mas foi algo que me veio com a leitura.

Gostei:
"É isto que faz a falta de convívio." - porque só quem convive, quem é da rotina, pode saber um pouco melhor das formas como esse alguém reage, e vive. DE fora, sempre é mais fácil lançar opiniões fofas e tal.

Beijo!