sábado, junho 25, 2011

O quarto de empregada

Tudo às claras, o banheiro ao lado do quatroporquatro, a máquina batendo a roupa com um ronco baixo que a embala, a empregada vendo a novela no celular. Alô... enquanto para tapar o sol das frestas, é preciso tapar os olhos mas como tapar os ouvidos para os sons que ressoam pela casa inteira? Um sino tocando, uma chamada de uma voz aguda, um comentário sobre política com uma voz agudíssima. Enquanto o telefone toca, o cheiro de carne assada invade o quarto, abre as portas e...
adormeço.
Escuto a descarga do banheiro logo ao lado, a água pingando no sanitário e todos os nossos resíduos misturando-se em vapores. Batem a porta e pergunto se podem entrar. Entre a vigilância e a dormência finjo sono profundo. Abrem a porta, portas de armários, porta da geladeira. Mais luz, mais sons, os passos firmes, pisando inteiros no chão.
eu continuo deitada.
A cozinha respira, a casa vive
e eu continuo deitada.

2 comentários:

J.L.Tejo disse...

Hummm, a sensação que tive: estamos deitados, de olhos fechados, mas a vida não para, está tudo em movimento. Estamos em segurança: alguém cuida da gente (a empregada?)

Mas uma hora precisamos levantar. Senão, é como se estivéssemos à parte.

Mayra disse...

eu vivo à parte. esse é o problema.