terça-feira, fevereiro 10, 2009

Do Amor

Enquanto eu estava esperando meus alunos terminarem o exercício que eu acabara de passar, eu olhei pra janela. E é um perigo a combinação dos elementos: Mayra + janela da UERJ + tarde de verão. Não por eu ter vontade de me jogar. Não tenho, nunca tive. Ouso dizer, inclusive, que nunca terei.
Mas suscita uma série de devaneios fora de hora, os quais eu nunca tenho tempo de concluir porque, ou os alunos terminam o exercício, ou eu fico com medo de parecer que estou entediada enquanto estou ali, lecionando, ou eu tenho que me conter pra não deixar uma ou outra lágrima desencadearem uma torrente salgada escorrer pelo meu rosto.
Comecei a, de novo, pensar para onde vai o amor. Desde muito cedo, desde a idade em que se descobre um Amor, que vai além do materno ou paterno ou mesmo fraternal, que não envolve seus animais de estimação ou pessoas da sua família, quando eu tinha uma idéia muito clara e eu achava que, se alguém me perguntasse, eu seria capaz de dizer o que era o Amor, eu responderia o que estava na ponta da língua, claro. Conhecimento geral. Todo mundo sabia o que era o Amor, ou não?
Então, aos dezessete anos, pela primeira vez, eu vi um Amor terminar. E achava que nunca tinha ou iria sofrer tanto na vida, porque o Amor que tinha terminado, não era o meu. O meu continuava ali, como dizem os manuais românticos, continuava fazendo meus olhos se abrirem de manhã, minha boca engolir a comida nas refeições, minhas narinas receberem ou expelirem o ar para meus pulmões e meu coração bombear sangue para os meus orgãos. E então, depois de muitos meses, o amor acabou para mim.
O fato de acabar, sempre me faz duvidar que era verdadeiro. Eu nunca duvidei da felicidade que tive enquanto casal. Sei bem que isto tudo é muito real. Mas como um Amor que acaba pode ser chamado de amor, desse, com letra maiúscula? Para onde que ele vai? Para ser Amor, não é uma premissa de que ele tenha que, necessariamente durar para sempre, independente de você estar com a pessoa ou não? Afinal, Amor não pressupõe correspondência. E se acaba, novamente, para onde ele vai? Como ele sai da gente? Pelos poros, pelas cavidades, pelo suor, durante o sono?
Então eu sempre acabo por duvidar... que amor era esse, que só se escreve em minúsculas e sim, só se escreve, não se inscreve em nada, nem ninguém.
Ia começar a duvidar do amor, quando... acordei.
A solução? Não passar mais exercícios em sala de aula. Desestimular, por enquanto, qualquer iniciação à teoria amorosa segundo Mayra Lopes.

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