Tudo já mudou de lugar. Hoje coloquei a enciclopédia para cima. para abrir espaço para os demais livros que chegariam.
Mais de dez.
As prateleiras agora apresentam buracos, muitos vazios que eu não sei como preencher. Resta a angústia de tapar os buracos e acabar logo com o que tem que ser feito, existem livros demais para ler, tempo de menos para tal.
Vai virando uma bola de neve que tira o sono. Queria ler, tenho que ler, tenho que ler.
Não me parece então estranho que a vontade maior que eu tenha seja de permanecer na cama lendo. E não lendo o que eu preciso ler mas o que quero.
Quero também ler para os outros, uma outra pessoa específica, quero ter o cuidado de separar trechos de lirismos para se ler no cenário das minhas estórias: o quarto.
Mais do que falar, eu quero seguir a rota das linhas de outrem e senti-las saírem dos meus dedos quando fecho meus olhos, como se fossem também criação minha.
Quero um correr de máquina debruçada sobre uma xícara de café e o cigarro queimando no cinzeiro. Eu quero as letras de quatro horas da madrugada, do sonambulismo e da bebedeira.
E o amor dos outros para dar forma ao meu.