domingo, fevereiro 04, 2007

As close as this

As opções parecem ser muito poucas, quando realmente se pára pra pensar sobre elas, se é que fazem isso.
Funciona mais ou menos assim: Até uma certa idade, estuda-se, todos, mais ou menos a mesma coisa, com pequenas diferenças de regiões, classes sociais e afins. Depois, a estrada começa a apresentar algumas bifurcações.
Entra-se numa faculdade qualquer, a que seria típico da escolha que os papais fizeram: administração, economia, direito, pedagogia. Pode ser qualquer outra também. Todos com a mesma ambição: ganhar dinheiro. Casam, começam a ter filhos, três, no máximo... Sabe como é, nos dias de hoje, uma criança custa caro. O judô dos meninos, o ballet das meninas, curso de inglês, aulas de reforço, uma vaga na escola britânica. A mulher começa a parar de se cuidar, a raiz preta aparecendo nos cabelos loiro platinados, o homem adquirindo, a olhos vistos aquela barriga de cerveja de todos os casais que estão juntos a um tempo razoável. Trocam o carro por um carro maior, mais confortável para as crianças, a TV por uma maior, de tela plana, o VHS por um DVD. Tudo, todo aquele trabalho, aquela mediocridade do 9 to 5 job para manter esse padrão de vida, ter sempre as maiores novidades, numa casa que dificilmente recebe visitas para que se possa exibir o alto padrão de vida que mantém. A vida a dois vai de mal a pior. Levatam-se todo dia e mal se olham, parecem dois estranhos. A vida sexual nem se comenta. Primeiro passam a fazer amor uma vez por semana, depois, quinzenalmente, até que, por fim, uma vez ao mês, uma vez a cada dois meses. - Ah, hoje não, eu estou cansada.
Tudo automático, mecânico.Descobre-se então um amante, que sacode a vida. Mas por quê, o que foi que eu fiz, o que fiz de errado?
É o que você não fez.
Cai-se então na resignação, a vida é assim mesmo e minha vida é boa, ela é ótima. Separam-se. Lindos aqueles casais que ficam juntos 30, 50 anos, mas esse amor, ele não existe mais.
O outro é pular de galho em galho. Todo final de semana, ter que ir para algum lugar. É o tédio, eu não tenho nada para fazer, nada melhor. Nove e meia, dez horas, tomar banho. Abrir o guarda roupa razoavelmente cheio, com roupas compradas especialmente para esse momento. O fim de semana, a hora de ser visto, querendo ainda, dar a impressão de que é tudo muito natural, de que, não é aquele o ponto alto da semana. Fazer cortes de cabelos modernos e tatuagens, ainda que não apareçam.Ter tênis coloridos. É cool. Pouco importa que existam pessoas mais legais, que parecem mais legais, aquelas pessoas realmente boas de olhar. É se olhar no espelho e pensar que também é bom, de vez em quando, se olhar. Abrir a garrafa de vodka com um pouco de coca cola, colocar uma música para entrar no clima. Pessoas diferentes, que escutam músicas diferentes, quase como párias. O contrário dos cariocas e sua maldita cultura de praia e funk. Mas tão previsíveis, oh, tão previsíveis. Ouvir o mesmo tipo de música, sempre. Fazer cara de nojo pra qualquer coisa nacional, é tudo lixo mesmo. Está na hora, vou sair. Percorrer os lugares mais badalados, conhecer todos os djs, é sempre bom. Oi querida, tudo bem? Quanto tempo! Você está linda! Ficar com 3, 4, 5, até 10 pessoas. Voltar pra casa sozinho, entrar no msn, bêbado e mandar mensagens provocativas pra qualquer passado que esteja online; porque eu posso. Ir dormir com um sorriso, fingindo que acabou aquele vazio da semana inteira. Já que ninguém sabe, mas ficar consigo mesmo, é ruim demais. Liga, liga...vem pra cá! Quer jogar um pouco de video-game? Pronto, não estou sozinho, mas respeita o meu espaço, se abrir a boca, sai daqui que a casa é minha. Que que é?
Você só está aqui para tapar os meus buracos.
E a liberdade, cadê?
Ou os artistas, os filósofos, ah, tão superiores! Passam o dia lendo, as vezes com uma vontade de tomar um conhaque, puxar um beck ouvindo Mozart no seu apartamento em Santa Teresa. Tem que ser clichê, artista que se preza, é clichê. Ouvem mpb, tomam cerveja e andam de chinelos. Ficam parados, ao pé da janela, vendo as nuvens. Tem uma aura de preocupação constante, a hipersensibilidade. Ninguém entende, ninguém me entende!
O importante, não são as respostas, mas os seus meios, como elas vêm, se vem e porque. É descrever, é copiar, é desenhar, é compor sobre os cabelos daquela mulher com quem acordei, sobre aquele dia andando pelas ruas do centro, sobre o amor, sobre a dor. É colocar pra fora, vomitar tudo da maneira mais bela que se há. É lindo, tenho vontade de chorar. Eu era isso aí, já não fui mais a partir do momento que coloquei pra fora. Não sei, não sei mais. Observar, parece sempre mais interessante e eu vejo tudo, até a joaninha que pousou na minha saia há um minuto atrás. Metáforas. Já é tudo tão intenso que viver, viver é um luxo, e colocar-se nesse luxo, mais a flor da pele ainda, é morte, é fatal. Sem conversas, sem vivências, tudo aqui dentro, tudo agora. E os problemas de toda hipersensibilidade: alcoolismo, drogas, depressão, esquizofrenia, epilepsia. Todos na biografia de todos eles. Não são normais. Dá pena, tadinhos, tão esquisitos, tão dependentes. Fazem essas coisas horríveis, destroem-se para chamares atenção pra si, egoístas que são. Costumam suicidar-se dos 23 aos 40 anos, a maioria dos bons. A intensidade, é intensa demais.
Caçam as respostas, o amor, a plenitude a vida inteira pra chegar a conclusão: Is that all there is?

2 comentários:

Lutz disse...

You are not your job!

Adorei o texto, mesmo achando a idéia de uma vida tão inerte assustadora.

=***

fernanda disse...

gostei.
assim, mais pro final.