Eu ia ligar pra você ontem.
Como pretendia iniciar uma conversa dessa maneira patética? A verdade é que não havia nada a ser dito.
Ela havia por um segundo, não se sabe por quê, pensado em algo. De súbito, lembrou-se dele, e sorriu. Arrependeu-se logo em seguida. Porém já não adiantava, descarrilhou o trem, com ela dentro, sem que ao menos tivessem tido a delicadeza de perguntar-lhe se ela queria embarcar. Fora arrastada.
E passou o dia inteiro afundada nas lembranças, chorando eventualmente, refazendo as mesmas perguntas, os mesmos por quês que já tinha feito mil vezes antes, mentalmente.
"Por que ela e não eu?
O que ela tem que eu não tenho?
Por que ele tem vontade de ficar comigo, e diz que me adora e coisas do gênero?
Por que essa necessidade de muitas?
E finalmente, por que aquele fim de semana em outubro?"
Iam ser sempre o seu enigma. Ela nem mesmo sabia se queria mesmo as respostas. Ainda assim, não conseguia evitar o sorriso pensando na felicidade que teve. Sorrisso esse que lhe doí e lhe custa ter. Sorria pra chorar logo após.
E foi assim a tarde inteira, inrompeu-se pela noite, terminou no banho.
Não falou, não disse a ele. Espera não lembrar mais.