sexta-feira, janeiro 23, 2009

O trem



Uma amiga me disse que eu podia amar... (seguiu-se a esta frase uma lista de nomes de mulheres que ela já me ouviu dizendo o nome algum dia). O Pedro Rios me diz sempre que eu sou muito compreensiva. Ele diz isto no bom sentido, é claro, pra ele. Sou compreensiva na medida em que não julgo as merdas de ninguém na frente delas e não sou de dar esporro. A não ser que seja absolutamente necessário e quase nunca é de uma forma muito grosseira. É claro que tudo depende do nível de raiva ou mágoa que o acontecido suscita em mim. E se não tem nada a ver comigo, como posso eu servir de juíza quando I´m always a big mess all around everybody?
Então eu ando realmente ouvindo várias pessoas, sobre vários assuntos e, como sou muito egocêntrica, acabo parando para pensar, sempre que posso no " e eu"?
Depois desse ser compreensiva e juntando com as aulas sobre Clarice Lispector em Literatura Brasileira, que parecem que não vão acabar nunca e que parecem nunca fechar um ciclo, eu pensei:
Talvez eu seja uma mulher clariciana. Diferente é claro, de quando eu tinha 17 anos e achava que era uma mulher clariciana. Mas talvez, eu seja, não compreensiva, mas passiva mesmo. Eu tenho uma vida interior tão intensa e o exterior mexe tanto comigo e de uma maneira tão negativa que eu realmente adore me ver dentro de uma zona de conforto onde eu tenha a possibilidade de viver uma vida outra, não minha, de me preocupar com o outro e de não saber e não ter consciência de mim. Eu me enrosco fácil nessa possibilidade e me torno um fardo. Uma Laura, dizendo de tempos em tempos, que "voltou, Armando, voltou".
Como num trem que já partira.
Mas a consciência de mim existe sempre e incomoda, não só a mim, mas ela mexe com a minha compreensão. Então a tempestade, que é mais difícil que a passividade. Podendo, eu sempre volto pro meu ninho com a cabeça baixa, depois de qualquer tempestade.
Mas aí, o meu trem, já partira.

Um comentário:

Bruna Maria disse...

É curioso porque, da mesma forma que você acha interessante essa "zona de conforto", na qual ouve o exterior, a coisa também funciona ao contrário, provavelmente. No sentido de você ser um espaço exterior também a outros, certamente, que acabam por viver (imaginariamente) o que supõe que passa por dentro da sua vida. Mesmo que não haja caminho escancarado para isso, mesmo que você não viva falando de suas coisas a deus e o mundo, entende? Não sei, algo que pensei aqui.
De qualquer forma, parece que só uma palavra cai tão perfeitamente para esse posicionamento de ouvir várias pessoas: compreensiva. Ainda que a natureza do seu gesto nada tenha a ver com ser ou não compreensiva intencionalmente... enfim..
(Gostei da foto!)