domingo, agosto 31, 2008

clarice

E eu ontem fui no CCBB à noite, já. Primeiro, procurando saber como é que eu conseguia provar que estive ali. Duzentas horas de atividade extra, professora recomendou, tá valendo. - E mesmo que não estivesse, pensei eu.
Isso quando eu ainda não sabia que estava prestes a me decepcionar profundamente. O que eu esperava? Não sei, esperava Clarice, oras! Mas o que é esperar Clarice, assim, só primeiro nome como se eu falasse de amiga íntima? Não sei. Não sei nem o que é esperar Mayra.

Então eu estava atrasada, tinha muita gente e aquelas paredes enormes com as coisas escritas, as quais, eu passei voando. Mas eu já li isso tudo, gente. Por que é que vou querer ler de novo, descontextualizado assim, como se fossem citações de um livro de citações que as pessoas escolhem colocar no "about me" do orkut, dizendo ao lado: Clarice Lispector - me traduz.
Eu que já não tenho certeza se algo me traduz, e que achei que ela talvez fosse o caminho da tradução de mim, mas há anos atrás.
E era tudo muito parecido com a proposta do Museu da Língua de São Paulo. Não é de se admirar que a exposição tivesse sido exibida lá, primeiro. Cabe inteiramente nos padrões. Até a sala das gavetas não era grande novidade pra mim. Na exposição do Gilberto Freire também haviam gavetas. A diferença é que elas já estavam abertas.
Mil cabeças e mim mãos num puxa puxa danado. Por essa também, passei meio rápido.


Só parei mesmo e fiquei no manuscrito de Água-viva porque ali eu achei o começo e que me fez quase que colecionar todos os outros livros dela procurando o aquilo que eu tinha enxergado n´água-viva. A verdade é que nunca achei, como não soubera bem o que procurava.
Não pego Clarice desde o terceiro período da faculdade, quando fiz o trabalho de teoria da literatura e filosofia sobre A paixão segundo G.H. Ficou medíocre. Mas o meu medíocre recebeu 9,5. Eu é que não ia levar o meu excelente praquela pilantra "especialista em Clarice", que roubou todos os nossos trabalhos. E agora vou ter que ler A Hora da Estrela. É, eu nunca li A hora da Estrela. Nunca tive vontade.
O motivo de eu ter ficado também pouco tempo nessa sala, ao contrário dos que ficavam e liam, de cabo a rabo tudo que tinha em todas as gavetas, é que eu odeio essa coisa assim bisbilhotice. Não me sinto bem. Eu não leio biografias, auto- biografias e afins. Livros de diários e correspondências só em último caso ou no caso de uma curiosidade realmente feroz que não aceito senão com culpa.
Coisa de quem tem diário desde que aprendeu a escrever. Tem coisas que são nossas e de mais ninguém e não interessam a mais ninguém. Quando quiser mostrar, eu mostro. Há um certo escancaramento de vida por aqui e distribuido por outros blogs e correspondências mas há coisas que sim, são realmente secretas. Diário é no calor. É pra escrever odeio fulano, ou que mataria o filha da puta do passarinho que está cantando na minha janela no domingo de manhã. Como dizer, a não ser num lugar meu que, ei, você pessoa... quando estou menstruada, a última coisa que eu quero, é olhar na tua cara. É o problema é meu mas se você continuar aqui e eu continuar com as ganas, te garanto que o problema vai ser seu também.
Eu sei que a gente estuda aquele bla bla bla de tudo que se escreve é para alguém ainda que o alguém seja eu visto que meu eu-leitor não é o mesmo do eu-escritor. Mas se eu posso encaixá-los numa mesma categoria de eu já não fica tudo por dentro, mesmo?
Eu poderia dividir. A namorada poderia ler, se quisesse. Mas quer e não quer, ou tem medo, não sei e eu acho isso sabedoria. Se ela tivesse um diário, eu não gostaria de lê-lo. O que eu acho que devo, eu conto. Eu até transcrevo em ocasiões raríssimas.
Mas é só. Necessidade não é pra exposição e eu, não gosto de ver exposição da necessidade alheia, seja ela do que for.

Um comentário:

Bruna Maria disse...

É mesmo... tem coisas muito pessoais, que não acho que nem sempre são escritas para serem divulgadas, como informações quaisquer. Acho que eu não faria questão de ler o diário de uma outra pessoa com quem eu me relacionasse direta e diariamente, porque como você mesma coloca, acho que o que consideramos que devemos contar, nós contamos. E se não contamos outras coisas, é porque, ao menos por aquele momento, elas devem ficar ali nas folhas, na parte mais privada e pessoal que temos ao escrever. Creio que faz parte dos limites também, de individualidade; que nem tudo é para ser sabido, que muita coisa é nossa, e só nossa. O máximo que dá para fazer - na minha opinião, é universalizar algum texto pessoal, tornar uma outra coisa, inserir numa conversa sob outros moldes, ou até publicar em blog mas se privando de certos detalhes que não acrescentam em nada a idéia que se tem, que apenas servem para matar a curiosidade alheia.

Ainda não fui a essa exposição, espero não perder a data..rs...!! Vou lá qualquer dia ver de perto o que você citou, as gavetas e os manuscritos.
Parece que todo escritor que assim se consagra tem os escritos íntimos violados, né? Porque passam a servir de mais material para leitura e conjectura. :S
Não sou leitora de Clarice. Tive que reler "A hora da estrela" ano passado, e tal. Nem acho ruim, não posso fazer crítica, imagina! Seria uma pretensão gigante. Mas, sei lá... Não sei. Fico um pouco arredia. Acho que é porque no 3º ano, na escola, Clarice "bombava" no circuito de pessoinhas com tendências cult, na qual eu tentava me incluir, haha... ótemo. O que cai justamente nessa parada de orkut, de citar frases soltas e nunca lidas na obra, mas resgatadas da internet. Ai, profundo. Demais para mim. (haha).

Um beijo!