terça-feira, julho 08, 2008

Oi, por favor a Teresa?


Logo depois dos dezoito anos, eu contava os dias felizes a partir de marcas e hematomas. Contava daquele jeito torto de quem não sabe e nem acredita muito bem em felicidade e para mim, sempre foi aquilo ali. Sim, sempre. A sensação que tenho é que a infância é borrão. Exatamente a fase em que as pessoas mais dizem terem sido felizes, eu acho, era borrão. Lembro muito, porém, sinto pouco.
A verdade é, me parece, que passei a sentir aos dezesseis e desde então pouco parei. Tive alguns intervalos de insensibilidade mas é que que precisava do ócio, absorver as porcarias para depois voltar a ser trilhões de caquinhos em forma de um moisaco minúsculo. Little people. Hoje mesmo pensei em mim como little people enquanto eu imaginava a explicaçãoque daria a não sei quem de porque calças skinny não ficam bem e não são recomendadas à little people. Apesar disto, são meu modelo favorito e se eu pudesse, só teria delas.
Mas então, eu achava que em marcas preto arroxeadas, as vezes azuis ou um pouco verdes, eu achava que talvez fosse ali. Elas mudavam de cor, lugar e intensidade. As vezes doiam, mas era só olhar pra elas, em meio ao azulejo do banheiro que eu me teletransportava instantaneamente e ia pra debaixo d´água quente fervendo. Depois de um tempo, eu comecei a notar algumas pequenas marcas que vinham de pequenos esbarrões cotidianos que eu dava. Sabem como é, eu nunca realmente soube meu tamanho. E só então me toquei de que nem todos os meus roxos eram felizes.
O de hoje, por exemplo, não foi. Foi estúpido e dói de cutucar. A única coisa que ele me faz lembrar é que hoje tive preguiça de tomar banho na vertical e escolhi a horizontal, apesar de sentir frio. Me machuquei.
Talvez eu tenha me machucado pra me mostrar que eu sou carne que sofre. Eu quase esqueci.
Estou aqui porque precisava falar com alguém e sei que isto aqui não é ninguém mas eu lia, agora. Lia e vi Drummond no lugar de Bandeira.
Sempre gostei mais do Drummond e no lugar deles, eu sempre preferi Pessoa, apesar de não gostar muito de poesia. É mentira, eu gosto em segredo, só sou recalcada. Eu tenho implicância com Bandeira desde que meu professor de prática de interpretação, transformou a água forte em pornografia. It felt like dirty talking. O preto no branco nunca mais me saiu da cabeça.
Agora estou lendo o livro da mulher dele. E eu sempre achei que ele fosse um eu sozinho e não acompanhado. Aposto agora que também há um cachorro. Ninguém fugiria para longe da cidade grande sem ter cachorro.
Mas ele sempre me pareceu que estava flertando. Talvez porque ele gostasse muito d´eu e das minhas amigas, ouvisse nossas conversas e se divertisse com as nossas narrativas sobre o fim de semana.Afinal, nós somos cidade grande. Desde período passado queria voltar a ter aula com ele.
São três horas da manhã e meus horários serão meio estranhos, quase entrecortados entre sono e televisão ruim.
Férias. It feels like.

Um comentário:

Bruna Maria disse...

Três frases que ganham o texto: "Sabem como é, eu nunca realmente soube meu tamanho."

E: "Talvez eu tenha me machucado pra me mostrar que eu sou carne que sofre. Eu quase esqueci."

Não há o que comentar sobre elas, porque está nelas tudo o que têm a dizer, na minha opinião. Excelentes.

Eu lia Bandeira na escola, achava o máximo. Depois, esqueci. Até hoje, esqueci. Drummond ainda é mais vivo, mas também não trago aceso, não é uma leitura regular...

Partuclarmente tenho curiosidade de saber como é uma disciplina de prática de interpretação. Eu desconfio se é legal de fazer, ou válida. Provavelmente eu nunca faça. Mas, gostaria, ao menos, de saber como é.

O que gostei nesse texto é que, de fatos que parecem tão próximos, referências a leituras, a ambientes de faculdade, sai um texto que fala muito mais que isso. Começa falando muito mais, e depois, quase engana com as referências mais próximas, mas contua a falar de coisas tão mais longe. Assim achei.. não sei se procede.

Beijo!