Sempre, desde o princípio, desde a primeira palavra trocada de modo tão aleatório e inexplicável havia algo que incomodava. A princípio, achara que era simplesmente o interesse realmente desinteressado que aquela pessoa lhe dedicava. Era sempre fora uma pessoa que precisa dos por quês muito bem delimitados. E a pergunta martelava-lhe pela cabeça a cada intervenção - por que, por que, por que?
De alguma maneira, ela vinha conseguindo abstrair do estranhamento inicial e desta falta de explicação por, a sensação que tinha é que, mesmo que a outra lhe explicasse, ela não conseguiria entender. Sempre algo lhe fugiria, essa subjetivação do interesse e da vontade que não eram passíveis de serem tranpostas em signos humanos. Ela, de alguma forma conseguira esboçar simpatias e uma quase correspondência.
Pensava sempre em como as pessoas se contentam com pouco e como depois de tão pouco já se acham tão pertencentes a uma vida toda em comum - embora a vida prática entre elas possa nem existir. Não são. Na verdade, precisar sua importância (ou a falta dela) nem mesmo é necessário.
Depois de muito tempo, talvez até depois de mais de um ano, percebera o que mais lhe incomodava. Não era o interesse, não era ter que se interessar também. Ela havia dado a outra dicas valiosas sobre sua vida e que sentia que ela havia lhe roubado. Lhe roubara sua vida de sonhos, lhe roubara aquele que nunca tivera, seus planos para o futuro que nunca havia comentado. Ela lhe roubara todas as particularidades que, depois de um tempo, ela nem mesmo tinha coragem de lhe contar. Mas mesmo assim, a outra roubara.
Adivinhara.
Mesmo com essa sensação profunda de mágoa, sempre lhe estenderá um sorriso sereno, seguido do inaudível cumprimento.
Um comentário:
"sensação profunda de mágoa"?
Talvez, a outra tenha lhe roubado apenas a aparência do que era verdadeiramente o sonho, as aspirações, o outro que nunca tivera. Não necessariamente terá roubado, ou adivinhado, o que lhe pertence realmente, particular que é.
Porque, pode parecer banal, mas o que é nosso mesmo, ninguém pode roubar. Só pode dar a impressão de roubo - é no que acredito, não sei se é o certo. Mesmo que seja o sonho ou o desejo quanto ao futuro - o nosso, o que vem de dentro da gente, ninguém pode ter igual. Pode ter um similar, que pareça mesmo, mas que ninguém garante que será como *o nosso*, tão magnífico quanto é para gente.
Por isso, continue a estender o sorriso sereno sim, pois a suspensão deste, certamente, fará falta. ;)
Beijos.
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