Nos meus achados deste feriado/fim de semana prolongado, estava também meu trabalho "Memórias", as memórias de uma aula de Literatura Portuguessa II, que incluiam Estética, Os Lusíadas, Lírica Camoniana e Algumas peças de Gil Vicente.
Pulei direto para a parte que eu fui atraída, a da lírica, deparei-me logo com o que não queria. Os paradoxismos a propósito de amor com os quais eu concordei e que hoje só quero fingir que não existem e agora, quase que doem como possibilidade que sempre existirá, a qual temo mas não quero enxergar.
E tanto eu, como o professor, escritores brilhantes de frases soltas temos as nossas partes e opiniões acerca de. As minhas, em itálico, conclusões, pensamentos, assuntos off subject ou coisas que ele dizia e eu pretendia, um dia, desenvolver em palavras minhas, as dele, normais e absolutas:
"O prazer em nós, em mim, equivale a desprazer. Um algo a que se segue uma sensação de vazio muito maior do que o vazio anterior. Não há saciedade. O que há, é uma morte.
(...)
Desde a tradição grega, é o amor um sentimento que supõe hipérboles."
E além de tudo, me serviria para explicar porquês:
" Todo ato de amar traz em si capacidade maior de amor. Se a pessoa amada tem um defeito, amo-a mais porque não trata-se de um defeito, mais de um algo a mais para amar."
E a parte da lírica, pouco antes de terminar, quase que termina assim:
" O amor morrerá ao primeiro vento mundano que o toque. Quem não sabe dizer que ama nas várias declinações da palavra amor, não ama. Quem ama, perde, tem roubada de si, a própria vida; quem sabe até por vulgos olhos e cabelos e cabelos balançados em um dia ao acaso.
Camões encastela o amor, intocável a qualquer humano e entretanto, velado por todos eles. O amor é, um sentimento extra- humano. O ato de amor não é um ato de posse, tem a ver com um gesto de atração, receptáculo do que existe dentro de nós mesmos e somente ali. Não tem nada a ver com coerência, é autônomo em relação a nós, não pressipõe dentro de si o nosso desejo de amar. É um sentimento que reina sobre o impossível.
Nós não somos merecedores do amor até nos tornarmos ridiculamente outros em nós mesmo porque o sentimento nos obriga a uma dignidade de não mais nos habitarmos."
Memorial de literatura portuguesa II - Parte II: Lírica camoniana
Aluna, Mayra Lopes; prof: Marcus Alexandre Motta
E meu trabalho ali, não era tanto dar opiniões, romancear, contar casos da minha vida ou de amores que (achei) que tive, nem fazer uma poética do amor. Era copiar o caderno e só. Para no final do ano, guardar o trabalho impresso.( e só).
Um comentário:
É que às vezes a gente desconhece a dimensão encoberta pelos propósitos mais explícitos, como o seu de apenas fazer um trabalho e guardar, ao final. Há quem leia de outras maneiras...
Agora. Mayra! Essas aspas e itálicos, não sei se compreendi, mas são suas? Foi você quem escreveu, não é isso?
Que coisas lindas, você tem essa noção? Lindas, mesmo. Seu propósito pode ter sido mesmo um trabalho, somente; mas, falando por mim, não posso negar a ler muito mais aí dentro.
Vou voltar a reler outras tantas vezes, porque achei realmente belo.
Curioso é pensar nesses parágrafos quando o mundo quer te mostrar as possibilidades contrárias. Mas aí, damos o nosso jeito, de ignorar e viver...
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