sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Não tangível

Encontraste na rua, aquele homem que via na pequena televisão de sua casa, todas as noites, na hora da novela. Enquanto ela tentava atravessar a rua, atenta, viu-o andando de bicicleta. Só olhava. Não fazia sentido incomodá-lo e nem se incomodar com a presença de mais um artista que cruzava o seu caminho.
Mas enquanto ele esperava que o fluxo melhorasse, notou seu olhar e fora falar com ela.
- Você quer um autógrafo?
Da onde aquilo poderia ter vindo? Será que aparecia assim, tão desesperada?
- Não. Ah, desculpe. Não quero o autográfo não porque eu não seja sua fã. Veja bem, eu sou. Mas talvez pelos motivos errados. É mais a sua beleza do que o seu trabalho que eu noto.
- Nossa! Mas não é um pouco de exagero? Eu não sou nenhum Gianecchini.
- Não, não é. Mas é exatamente por isso que eu gosto de você. Você tem aquela beleza de rua, uma beleza menos mítica, menos irreal. Muito mais interessante. A sua beleza é palatável, delicada. Ao contrário dele, a sua figura me parece bem menos agressiva pelo excesso. Essa sua faixa branca no cabelo, por exemplo... lhe caiu muito bem.

Ele não era do tipo egocêntrico ou pelo menos, não parecia ser. Ela nunca o havia imaginado assim. Após a sua explicação, ele sorriu e a convidou para subir. Sutilmente, ela recusou. Palatável sim, o que não quer dizer que ela não aprecie certa dose de intagibilidade.

Um comentário:

Bruna Maria disse...

Gosto. Intangibilidade... a beleza urbana.

Não sei se encaixa, mas sempre que me bate algo de apreciar intangibilidades, isso sempre vem acompanhado de uma sensação de que, se fosse tangível, ia perder a graça. E que com certas situações, a impossibilidade de chegar lá, de tocar, de subir, é o que dá o barato.

Quanto às belezas que não seguem a mesma cartilha dos Gianecchini, acho-as fantásticas. Sou facilmente levadas por essas belezas que fogem ao main stream estético, rs. Só no caso do Gian, que eu abro exceção: eu o acho deslumbrante. Sempre o ligo a estátua de deus grego (ai, dei muito moral pra ele), porque acho que ele é todo proporcional, ao menos na tv e fotos, todo perfeito. (Vai saber ao vivo, né, rs.)
Mas pro dia-a-dia, as belezas menos agressivas, por favor.

Beijos.