Sentara-se bem em frente a ele. Fora uma escolha descuidada, era apenas por estar completamente sozinha. Entrara e achara melhor sentar-se mais próxima a ele, já que estava sozinha e ter o consolo dos sorrisos que sentia naqueles olhos verdes.
Mais cedo, tinha esbarrado com ele no corredor. Abrira um sorriso enorme e caloroso. Ele ficara sem entender, nunca entendia seus arroubos, já que, na sala, entrava muda e saia calada. A sua voz, pelo menos.
Desta vez ele não correspondeu, só olhou.
Uma menina quase estranha sentara a seu lado e não parara de a olhar um segundo. Ela, no entanto, se inclinava para frente cada vez mais, cada vez mais próxima dele. Ou quase enfiava-se dentro do papel que suas canetas rabiscavam desconexadamente. As vezes ria, sorria pra dentro do papel, concordando silenciosamente. Ele sorria também, do lado de lá.
Era como se o resto da turma houvesse desaparecido ou estivesse coberto de brumas Um laço invisível os ligava. Cada qual prescrutando os olhares do outro. Deu-se conta que também ele procurava respostas no seu olhar castanho. Novo sorriso. Confirmavam-se tacitamente sem dizer palavra. As palavras da aulas eram deles, eram eles.
E quando ele disse: Não fará; é porque era verdade.
Assim passariam a vida inteira.Na troca do verde e do castanho, no diálogo feito de sorrisos que tinham significado como signos lingüísticos. Não fariam nada, nunca.
Nem era essa a proposta. Amavam-se profundamente com o espaço de uma mesa entre eles.