- Eu acho essa menina linda!
- É, ela é bonita mesmo.
- Mas o nariz dela é feio, esquisito. Estraga um pouco o rosto.
- É!
- Ela escreve muito, eu gostaria de escrever como ela.
- Mas você já escreve!
- Não que nem ela. Além do que, ela é muito inteligente.
- E você também é.
- Mas ela é inteligente em áreas diversas. Ela estuda física, acho que faz engenharia e ainda é uma ótima fotógrafa. O meu conhecimento se resume somente àquilo que entendo e com o que me identifico. Não há nada de original nisso.
- Mas você fala quatro idiomas e bem. Tem certa facilidade com isso. Consegue ler certas coisas em holandês que você nem fala, só pelos conhecimentos que você já tem, tanto os de língua quanto os de mundo.
- Veja bem, eu não estou aqui me lamentando para ser elogiada. Mas, do que adianta? Sim, talvez eu faça bem a muita gente, talvez eu tenha um talento especial ainda não descoberto (nem por mim mesma) para a tradução, mas ainda assim... Eu gostaria de saber física quântica, por exemplo.
- Física quântica?
- Sim, gostaria de ver e entender as coisas além dessa nossa visão macroscópia. Eu quero os detalhes,quero partículas de vida. A minha visão é abstrata demais, eu gostaria que a minha inteligência fosse um pouco mais pragmática, um pouco mais analítica. Assim, não completamente preto no branco porque até da ciência a gente desconfia. Mas gostaria que as tonalidades que eu conseguisse distinguir fosse a coisa no meio, o cinza. Ao invés de só identificar as várias tonalidades de branco que ninguém além dos esquimós conseguem identificar. Eu gostaria de ser menos subjetiva.
Se eu realmente tivesse aprendido a fazer contas, a minha vida seria diferente.
- Diferente como?
- Apenas seria. Talvez eu não soubesse trabalhar tão bem as questões de linguagem e filosofia e talvez não conseguisse segurar abstrações em minhas mãos.
Sabe qual é o meu problema?
- Qual?
- Eu sou uma constante. Sempre fui. É por isso que não sei fazer nada direito. Eu parei num certo ponto e desse ponto, não saí nunca mais. Eu nunca entendi muito bem as variáveis e a sua mobilidade. O como e o porquê. Para mim, elas precisavam continuar misteriosas, eu não podia e talvez nem quisesse entendê-las. Eu, a constante, sem ter mobilidade, aquela que sempre pertenceu, sempre tive raiva das inconstâncias. Nunca as quis para mim. Então, eu deixei de saber.
- Mas e então, há solução?
- Não. Não é uma questão de solucionar, como se houvesse problema, de fato. A solução, talvez, seja continuar.
- Continuar o quê?
- O que já comecei.
2 comentários:
gente, viajei mto nesse texto! ;p
ah teve uma pergunta que vc fez que eu esqueci de responder.. sobre este comentário que eu fiz:
então... viajei pro bem. ;p
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