quarta-feira, julho 18, 2007

Barco sem rumo

Quando haviam se olhado pela primeira vez, a primeira percebeu-a como sendo quase bonita. Desde o momento em que soubera, sempre fora assim, atraída como inseto para as quases belezas da vida. Aquelas que só permitem um primeiro olhar que seja mais atento. Depois disso, havia aprendido que o segredo era evitar os detalhes. Eles poderiam quebrar os encantos de quase.
Dois pares de olhos castanhos no escuro. Um que acabara de achar o que procurava o outro que olhava para além, numa ânsia de alcançar o atrás da fumaça de cigarro.
E a sensação de, pela primeira vez ser fisicamente maior, dava-lhe um poder todo outro. Dava-lhe a sensação de que poderia seguir com seu mistério a vontade, pouco falar e concordar, somente sorrir quando lhe fosse cobrada alguma reação.
Mas sorriria daquele jeito escandalosamente doce, quase infantil, que desarma qualquer um. A outra desataria a falar tendo a única confirmação de que precisava.
A primeira, evitaria os olhares e os escândalos de paixão, os beijos profundos e as ousadias. Seria uma esfinge.
Podia sentir o medo da outra: eu provavelmente nunca mais a verei.
É verdade, mas ela não diria. Deixaria implícito em sensações que aquele encontro não existiu, não era delas.

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