sábado, novembro 18, 2006

The trick is to keep breathing

Lá, na banheira, só cabia ela. sentada, os dois pés encostados, apoiados no final da banheira, logo embaixo do buraco da água. A cabeça encostada, virada pra trás. Após poucos milimetros, ela entra e senta, numa banheira quase vazia. A água vem pelo outro lado, desce quase quente e quando chega à ela, já é aquela mistura de morno com o vento da janela que não se fecha. Não faz mal.
Tudo branco, as paredes, o chão, aquela banheira. Tudo estranho. No chão, pegadas pretas de sujeira fazem enojar qualquer um. Ela prefere olhar para cima, ou para os lados, nunca para baixo. O único barulho é aquela cachoeira fraca com o gás zumbindo. Se não fosse por ele, o barulho seria quase de alguém que faz xixi, alto.
Olhando para a parede, parece uma prisão, com uma janelinha quebrada no alto, donde não se pode nem sequer tentar fugir.
A água basta.
Enquanto isso, os gritos lá debaixo incomodam, são crianças jogando bola, brincando, correndo, urrando. Ela então mergulha, as mãos tapando os ouvidos, o ar preso nos pulmões, abre os olhos e vê, por baixo d'água o branco todo embassado. É estranho, é como ver as coisas de longe, é como a entrada do céu, ou como naqueles dias muito quentes, nos quais ao longe, tudo se mistura.
E fecha os olhos novamente.
Parece o fundo do mar, e ver, de dentro do fundo do mar, o seu corpo, a sua casa, o teto branco.Mas o mar tem limites; abrindo os braços, dá-se com os lados da banheira. Se fosse fechado, seriam duas mortes. É como um caixão, cheio de líquido.A única fuga é voltar à superfície.
Levanta, respira, e sobem de novo todos os gritos. Dessa vez, a água é menos límpida, aparece amarelada e meio turva.
É, você está limpa, a água, suja.