segunda-feira, agosto 29, 2005

Quebra nozes

Ontem, acordei com uma vontade de dançar. Não de dançar daquele jeito das sextas-feiras, não era bem aquele ambiente sensual, nem aquela dança libertadora, exorcista e despropositada, que me arranca sorrisos, prazeres e suor. Não, eu acordei com desejo de algo bonito, algo lírico, de ritmo, de graça e leveza, algo delicadamente construído, compassado.
Senti saudades do meu tempo de menina, de bailarina, da disciplina rígida, da minha graciosa flexibilidade, da seriedade estampada em meu rosto, dos gestos leves, milimetricamente planejados.De que tivesse quem olhasse pra mim com admiração e um pouquinho de inveja, de quem me achasse linda, como se eu não houvesse nascido para fazer outra coisa, como se as sapatilhas fossem parte dos meus pés.Senti saudade de ficar na ponta dos pés, de dar pulos e ser girada, girada...
Senti falta de confiar em alguém assim, de entregar meu corpo prum giro suave, que eu faria de olhos fechados. Hoje, giro na ponta dos pés sozinha.E não há sequer uma pessoa pra admirar a bailarina que ainda em mim vive.
Senti saudade de ser a mulher passiva dos tempos de antigamente, e de cega, me despencar.

Um comentário:

Mariana Casals disse...

«Hoje, giro na ponta dos pés sozinha.E não há sequer uma pessoa pra admirar a bailarina que ainda em mim vive.
Senti saudade de ser a mulher passiva dos tempos de antigamente, e de cega, me despencar.»
me deliciei com este trecho. dançar é muito bom. eu amo valsar!
seu texto tá 10.